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Mãe, há lembranças ... I

 Mãe, há lembranças em cada canto Nos cantos da casa No canto dos pássaros No teu altar, lugar santo Mãe,  há lembranças em cada canto A tua voz a chamar por mim A tua fala gravada A noite sem fim  Os teus cabelos Aninhados nos meus dedos  Escuta o meu saudoso pranto. Mãe,  há lembranças em cada canto Os teus gestos A sonante gargalhada Tudo em ti era bom, mãe  Os vasos encostados à parede Do quintal  Tu regavas e eu regava Mãe, há lembranças em cada canto E mesmo quase sem poder Seguravas um braço  E com o outro   Levavas o regador  Com um bocadinho de água  Sob um olhar de espanto Mãe,  há lembranças em cada canto  Conversas doces, zangadas, amargas tu desfazias o sobrolho carregado  E  buscavas a luz do sol Como se fosse um manto Mãe,  há lembranças em cada canto  Entre subidas  e descidas a pique  Que desordem na psique  Sempre te recuperavas Até na própria velhice  Mãe, há ...

Poema ao amor e à saudade

 Olhos lacrados, para sempre  lacrados A mão direita repousada  sobre a esquerda definitivamente inerte Quando eu morrer vais gritar por mim?! E o grito que pediste, ainda está aqui, sufocado Guardado Desejoso de gritar O que sinto, é tão forte que não sei dizer Preciso do lugar certo e deixar sair Este dorido clamor, meu brado de dor Que desgraça  encontrar -te  Coberta já pelo manto Da  mortalha Naquele quarto, tristemente só  A boca ligeiramente aberta  Deixando  entrever um amarelo escuro  brilhante, qualquer coisa semelhante  Radioatividade   Uma lua esfumada de um branco sujo Uma brilhante experiência nuclear  Quanta "porcaria" ali  atirada A cor do rosto  já  era outra  Folhas secas Sob uma camada de gelo Tão diferente da anterior Que desgraça foi esta, tão imóvel  Uma imobilidade perturbadora  Tão distante de mim...  Quantas maldades?  Crucificaram-te sem se entender a r...

Assaltam dúvidas

 Poupar do sofrimento,   é forçar a morte de qualquer forma ? Mesmo que isso  implique ainda mais sofrimento? 

Meu amor

Meu amor é uma branca flor E em junho aconteceu murchar  Meu amor a melodia que cantas Tem tal graça mesmo  a desafinar  Mas tão formosa senhora Tão enlevada devo estar  Sei que te vou amar  Até toda a água da terra secar E quando tudo acabar Terei forças para continuar a amar.  As areias do tempo  vão correr na ampulheta  Vão passar e eu a pensar Estarás bem onde estiveres,  Meu amor, meu amor, meu amor... Passa bem , sem nenhuma ânsia a te perturbar Irei pois, um dia, quando a minha hora chegar Voltarei a ti meu amor,  Onde não há impossíveis,  nem longe, nem distância  Se por acaso não te reconhecer ou não te   encontrar  Juro que me porei a chamar, a chamar,  a chamar E se porventura te tiveres esquecido do teu próprio  nome Ainda assim, não vou parar até te encontrar E se me tiveres esquecido Dir-te-ei quem sou  E em mim  hás-de acreditar  

Poema à Mãe

 Quando chegaste deram-te cura Mas foi sol de pouca dura Era preciso saír dali  O mais depressa possível  Encontrar um abrigo  Para as mazelas sofridas  Julguei-te  protegida   A curar- se  ali  Engano meu  Má sorte para ti Encaixaram-te num quarto  Onde o sol se metia todo ali  O teu semblante calmo, Sereno, repousante  Que força era essa, mãe Que tinhas nos braços ? Nem um gemido, nem um ai... Apanharam o deslize  E trataram logo de ti  Injetaram o quê?!  Que diabo fizeram contigo?  Logo tu que querias viver mais Mas eles não pensaram assim  Querias te levantar da cama E fugir dali ?  Mas eles nunca permitiriam  Passaste a ser uma presa fácil  A cura ?  A injeção letal !  No corredor da morte  Como se respirar fosse um crime Estoiraram a tua massa encefálica  E eu fiquei a ver... O meu coração angustiado Como um louco desorientado  Que te estão a fazer...

Poema à Mãe

 Poema à Mãe  No interior de mim sei o que há dentro por ti Podem eclipsar  Com todas as armas  A minha presença  Para que não possas ver quem sou  Podem passar outros mares coloridos  Fazendo-se  de encantadores E os teus olhos deslumbrados Se esquecerem dos meus O que não sabes É que os peixes são escorregadios  Muito depressa saltam das mãos  Quando pensas que estão  Como as bolas de sabão, já lá vão  É nessa altura que ao  se afastarem Os teus olhos encontram os meus Eu fico e demoro,  E os teus olhos verdes  Verdes a se tornarem  Pedras  preciosas mais sombrias Desconfiados da transparência  Do que julgam ver nos meus  Há peixes à tua volta  Feiticeiros, sabem seduzir,  Dóceis e prazerosos   Arteiros  e manhosos Esses peixes mentem, enganam Mas tu não sabes e acreditas  Os  teus discursos  sinceros Num grato reconhecimento  É o que os peixes qu...

Quando a morte bate à porta

 Tudo o que desejava agora  era ouvir bater à minha porta  Se eu pudesse uma vez mais  ver o rosto  Acenar, enviar um beijo Seria uma mulher mais feliz Mais aliviada Quando se foi embora não houve o último adeus  Metade de mim morreu por dentro  Tentei chamar em pranto Sentei-me à beira do leito  Acariciei, tateei o  rosto Ainda quente  Mas com os cercos da morte  As pálpebras cerradas Um corpo inerte Sem sombra de vida Se ainda a encontrasse   de partida ... Quem sabe, teria tempo de falar, segurar a mão  Mesmo, com a  voz embargada  Que me sentisse ali Assim não,  Chegar e dar de caras  Com um corpo morto Sozinha, sem mim  do seu lado Há lá coisa mais triste?  Para mim, não há! Sei do seu amor por mim Sabe do meu amor por si  Não conseguiu esperar por mim Sei que fui eu que me atrasei  Não imaginava a hora... Porque não fui mais cedo?  Espero que do lado de fora  do ...